Eu estava passando as férias de julho de 1971 em Itaipava, então tinha 9 anos de idade e no começo do ano havia acabado de ingressar no Colégio Santo Inácio. O Grande Hotel Itaipava era o destino de toda a família, onde o meu avô era o verdadeiro rei do carteado.
A imprensa noticiava que o Fluminense havia liberado o Flavio, meu primeiro grande ídolo, para negociar com o Porto de Portugal…

Confesso que aquilo incomodava… a possível perda do artilheiro me deixava triste.
Eram tempos em que a Taça Guanabara era o 3º título em importância, falamos de 1971, o Fluminense começou a competição contra o sempre perigoso e osso duro de roer América, com o sempre brilhante Eduzinho (de quem o Zico é irmão) como destaque.
Esse jogo eu acompanhei, uma vez que estávamos na região serrana, pela rádio. O Fluminense tinha 3 jogadores com a Seleção Brasileira, para a disputa da Taça Rocca: Félix, Marco Antonio e Lula. Sem esquecer do mala do Zagalo, o que fez com que o Pinheiro assumisse interinamente o comando da equipe e trouxesse consigo da base jogadores que dariam glórias e títulos ao Fluminense tais como Zé Roberto, Marquinhos (que depois na Ponte Preta se tornaria conhecido como Marco Aurélio) e o Rubens Galaxe.
O Fluminense venceu por 2 a 0 com 2 gols dele, Flavio… o do “Nove é a camisa dele, indivíduo competente, tem peixe na rede do América!!!” (era assim como o Waldir Amaral .da rádio Globo se referia ao Minuano)
“04/07/1971
Fluminense 2 x 0 América
Local: Maracanã
Juiz: Valquir Pimentel
Renda: Cr$ 34.830,00
Público: 7.409
Gols: Flávio 2’ e 66’
Expulsão: Aldeci por jogo violento
Fluminense: Vitório, Oliveira, Márcio, Lubumba e Toninho; Marquinhos e Júlio Amaral; Cafuringa (Mickey), Flávio, Jair (Rubens) e Zé Roberto.
Técnico: Pinheiro
América: Alberto; Sérgio, Alex, Mareco (Aldeci) e Zé Carlos; Badeco e Renato; Tarcísio, Sérgio Lima, Edú e Chiquinho (Tião).”

Como estávamos nas férias e eu era CDFzinho a minha mãe permitiu que eu assistisse o vídeo-tape altas horas da noite pela TV Tupi, que transmitia logo depois da resenha do Ruy Porto, cuja apresentação começava depois do Programa Flavio Cavalvanti, ícone da televisão na época.
O gaúcho Ruy Porto que foi um dos pioneiros na imprensa brasileira na utilização de uma mesa de botões para explicar o desenvolvimento da partida, no típico quem fez o que e por que este ou aquele saiu vitorioso.
Sem saber eu estava vendo através daquela Telefuken de 20 polegadas os 2 últimos gols do Flavio pelo Fluminense.
Ainda participou da seguinte partida contra o Bangu. Jogo estranho com direito à virada, revirada e empate final.
“10/07/1971
Fluminense 3 x Bangu 3
Local: Maracanã
Juiz: Nivaldo dos Santos
Renda: Cr$ 30.438,00
Público: 6.920
Gols: Edson 2’, Jair 18’ e 26’, Acelino 52’, Almiro 62’ e Mickey 80’
Fluminense: Vitório (Jairo), Oliveira, Abel, Lumumba e Toninho; Marquinhos e Rubens; Cafuringa, Flávio, Jair e Zé Roberto (Mickey).
Técnico: Pinheiro
Bangu: Nei (Roni); Cabrita (Morais), Sérgio, Sídnei e Paulinho; Fernando e Samuel; Jorginho, Almiro, Edson e Acelino.”
Flavio despediu-se das nossas cores naquela tarde/noite… Foi vendido para o Porto… e não foi só pelo dinheiro. A viuvinha filha do Presidente do clube se apaixonou por ele e isso, para a época, só tinha uma solução…
A porta da rua.
Uma vez consumada a venda tive uma discussão com o meu PAI… “Como é que eu vou ver o Fluminense jogar sem o Flávio?”…
“Ué… no ano passado quem fez os gols decisivos foi o Mickey!!!” – contra-atacava o meu PAI, falando sobre a conquista do nosso 1º Campeonato Brasileiro, a Taça de Prata de 1970…
“Mas o Flavio é o melhor do Brasil” – respondi com raiva
Meu PAI subiu o tom da voz:
“U Baldo era muito mais xogador, un crack de la camisa nueve… Ele foi embora e nem por eso deixamos de ser campeones” – retrucou secamente encerrando a conversa naquele portunhol misturado com galego tradicional…
Durante meses da minha vida perguntei por aqui e por ali quem tinha sido o tal UBALDO… No máximo consegui chegar no obscuro Ubiraci…
Até que o meu avô matou aquela xarada…

O tal UBALDO em realidade era o Waldo, simplesmente o maior artilheiro da história do Fluminense.
E o cara era foda… Foda não… FODAÇOAÇOAÇO!
Em pouco mais de 400 jogos, colecionou títulos: Carioca de 1959, Rio-SP de 1957 e 1960, Torneio Início de 1954 e 1956. Ainda sagrou-se artilheiro do Carioca em 1956 e dos dois Rio-SP conquistados vestindo a camisa Tricolor, em 1957 e 1960.
Ninguém fez mais gols vestindo as três cores que ele. Foram 319 vezes em que a rede balançou. O mais impressionante: nenhum destes foi de pênalti, aumentando ainda mais o seu feito. Em 1959, marcou 69 gols, o maior número de tentos feitos por um jogador em uma temporada pelo Fluminense.

Volta Olímpica dos jogadores do Fluminense após a conquista do Campeonato Carioca de 1959. Em primeiro plano aparecem Castilho, Waldo e Altair . Quase nada!
As médias de gols dos maiores artilheiros dos adversários, Zico (Flamengo), Roberto Dinamite (Vasco) e Quarentinha (Botafogo), são inferiores a do Waldo. O que tem fácil tradução: O Artilheiro dos artilheiros.
Simples assim!
Mas toda história de amor tem um segundo ato…
No dia 1º de julho de 1961 Waldo transferiu-se para o Valência da Espanha…

296 jogos e marcando 182 gols
Dez anos depois era o Flavio quem deixava as Laranjeiras…
O Flavio foi meu ídolo… Já o Waldo por ter sido o ídolo do meu PAI passou a ser meu ídolo também.
Waldo faleceu na última terça-feira, dia 26 de fevereiro de 2019… terá para sempre o meu MÁXIMO RESPEITO.
Por outro lado tem ex-jogador em atividade dizendo que quer voltar de graça… em realidade está fazendo jogo de cena… está fazendo campanha política para pseudo candidato e tem gente (empresário / agente de jogador) de olho em Xerém.
Mas como também me ensinou o meu PAI: “No Fluminense os jogadores passam mas o clube fica!”
Vida eterna ao Waldo!
Vida eterna ao Flávio!
Vida eterna a todos que vestiram a camisa do Fluminense com dignidade e sem outros interesses…
Finalizando…
VIDA LONGA AO PEDRO!

O FLUMINENSE necessita de um verdadeiro e inegociável modelo de GESTÃO & GOVERNANÇA, de absoluta TRANSPARÊNCIA de cara aos seus sócios e torcedores, sem abrir mão de um FUTEBOL FORTE & CAMPEÃO.
Exerça a sua CIDADANIA!!!
No mais FELIZ CARNAVAL para todos…não esqueçam da camisinha e do KY.
O PEDRO VAI TE PEGAR!!!
Das Maravilhas do Mar, fez-se o Resplendor de uma Noite – Portela. Um dos sambas mais cantados pela torcida do Fluminense no Maracanã